Coluna #1 – Longevidade
Lasse Koivisto, colunista PASA e AMS
O Alzheimer continua sendo uma das doenças mais desafiadoras do nosso tempo. A ciência ainda busca tratamentos definitivos. Enquanto isso, cresce o interesse em estratégias não medicamentosas, especialmente aquelas que podemos aplicar no dia a dia e com custo baixo.
Na minha newsletter, Longevidade News, já falamos sobre um estudo animador que mostrou como mudanças intensas no estilo de vida — combinando alimentação, atividade física, suplementos, redução do estresse e apoio social — podem não apenas frear, mas até melhorar o desempenho cognitivo em pessoas com comprometimento leve ou Alzheimer inicial.
Agora, um novo estudo traz uma peça importante para esse quebra-cabeça.
Dessa vez, o foco está em um único componente: a atividade física. E os resultados revelam como o movimento do corpo pode proteger a saúde e até possivelmente tratar o cérebro.
O que há de novo?
Esse novo estudo publicado recentemente investigou a relação entre atividade física, biomarcadores do Alzheimer e função cognitiva em mais de mil pessoas.
Foi uma das maiores amostras já avaliadas nesse contexto: o estudo analisou dados de 1.144 participantes, incluindo pessoas cognitivamente saudáveis e outras com algum grau de comprometimento cognitivo.
Diferente do estudo anterior, que avaliou mudanças combinadas no estilo de vida, essa nova pesquisa focou exclusivamente em atividade física. O objetivo foi entender como o movimento do corpo, por si só, pode impactar o cérebro.
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E os resultados mostraram que a atividade física tem efeitos concretos. Tanto nos exames quanto no desempenho cognitivo.
O que o estudo descobriu
Os resultados foram claros. Participantes que faziam mais exercício apresentaram melhor desempenho cognitivo e menores níveis de marcadores associados à progressão do Alzheimer.
Entre os principais achados:
- Menor neurodegeneração: Níveis mais baixos de NfL (cadeia leve de neurofilamentos), um marcador de dano neuronal.
- Menor patologia tau: Níveis reduzidos de p-tau217, proteína associada à formação de emaranhados no cérebro.
- Melhor cognição: Pontuações mais altas nos testes MMSE e CDR-SB, usados para avaliar função cerebral.
Esses efeitos foram ainda mais fortes em pessoas com mais de 65 anos ou que já apresentavam algum grau de comprometimento cognitivo.
Por outro lado, o estudo não encontrou mudanças significativas em outros biomarcadores, como a proporção Aβ42/40 ou GFAP (ligados ao acúmulo de amiloide e à inflamação glial), que foram melhoradas o estudo anterior. Isso mostra, na minha opinião, que para afetar mais aspectos ligados a saúde cerebral, exercício sozinho não basta, você precisa cuidar de outros elementos, como alimentação, controle de stress, sono e outros.
Importante: Embora o estudo não comprove definitivamente causalidade, por ser transversal, a associação é forte e abre caminho para novas pesquisas.
Mas afinal, o que são esses biomarcadores?
Para entender os resultados, é importante conhecer os principais marcadores usados hoje na pesquisa sobre Alzheimer. Eles ajudam a monitorar a progressão da doença antes mesmo dos sintomas se tornarem evidentes.
- Aβ42/40: é a proporção entre duas formas da proteína beta-amiloide. Quando esse valor está baixo, pode indicar acúmulo de placas no cérebro, um dos primeiros sinais da doença.
- p-tau217: uma forma alterada da proteína tau. Quando seus níveis aumentam no sangue, isso sugere que o cérebro já está formando os chamados emaranhados neurofibrilares — lesões típicas do Alzheimer.
- NfL (cadeia leve de neurofilamentos): esse marcador indica lesão neuronal. Quanto mais elevado, maior o grau de neurodegeneração em andamento.
- GFAP: proteína associada à inflamação das células de suporte do cérebro (astrócitos). Costuma aumentar quando há inflamação crônica no sistema nervoso central.
Esses biomarcadores permitem acompanhar o que está acontecendo no cérebro de forma indireta, mas confiável. Eles também ajudam a entender como diferentes intervenções afetam processos distintos da doença.
Como colocar isso em prática?
O estudo mostrou que quanto mais atividade física semanal, melhores os resultados em cognição e em alguns biomarcadores associados ao Alzheimer. E não precisa ser complicado diz o estudo: atividades como caminhar, dançar, subir escadas ou cuidar do jardim já ajudam. E lembre-se: os melhores resultados foram observados em quem se exercitou mais.
Os participantes mais ativos acumulavam, em média, o equivalente a uma hora de caminhada rápida por dia ou 30 minutos de exercício mais intenso, cinco a sete vezes por semana.
Mas existe uma direção melhor?
Sim. Embora o estudo não tenha comparado tipos de exercício (uma das suas limitações na minha opinião), quem acompanha esta newsletter já sabe que o combo mais eficaz de exercício para a saúde completa é:
- Atividades aeróbicas e aneróbicas (ex: corrida, bicicleta, natação e outros)
- Treino de força (ex: musculação)
- Exercícios e atividades que envolvam coordenação
- Alongamento e exercícios de estabilidade
Você pode combinar essas práticas ao longo da semana, ajustando à sua rotina. O mais importante é fazer com consistência, dentro das suas possibilidades e de uma forma que te dê prazer.
E nunca, nunca se esqueça: crie esse planejamento com um profissional de saúde da sua confiança.
O Alzheimer ainda não tem cura, mas isso não significa que estamos de mãos atadas.
Esses dois estudos mostram que o estilo de vida pode mudar a trajetória da saúde cerebral, mesmo depois que os primeiros sinais aparecem.
E, mais importante ainda, reforçam que não existe uma única solução. Cada hábito saudável é uma peça que ajuda a construir proteção.
Lasse Koivisto é membro da Healthy Longevity Medicine Society e mentor de diversas startups. Em 2020, iniciou um estudo aprofundado sobre longevidade e, recentemente, deu início ao projeto Alpha Origin, no qual publica semanalmente artigos que têm como propósito ajudar as pessoas a viverem mais e melhor na newsletter Longevidade News.
Em 2025 se tornou o primeiro colunista dos canais de comunicação das operadoras de saúde PASA e AMS em uma parceria para trazer mais informações aprofundadas e seguras para nossos beneficiários.